Angela Teberga
Praia de Salvador-BA. Crédito: Igor Santos (Folha, 2020).
Não é verdade que o turismo apresentou saldo positivo de empregos em 2020. Ao contrário, o setor do turismo perdeu 301.469 postos de trabalho formais, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério da Economia. Embora com números positivos entre os meses de setembro e dezembro, o saldo não é suficiente para recuperar a perda entre março e agosto.
Nesse período, entre março e agosto de 2020, foram perdidos 406.697 postos formais de trabalho do turismo, o que equivale a cerca de 33% do total dos empregos perdidos em toda economia no mesmo período (1.210.796). No turismo, o maior saldo negativo aconteceu no mês de abril, com 154.359 desempregados (CAGED, 2020).
Fonte: CAGED (2020). Organizado pela autora (2021).
Desagregando por Atividade Característica do Turismo (ACT), verifica-se que o segmento de alimentação foi o que mais perdeu postos de trabalho em números absolutos no ano de 2020, com -182.984 (60% do total dos empregos perdidos). A única ACT que fechou saldo positivo de empregos no mesmo ano foi a de aluguel de transportes, com +2.521.
Do “núcleo duro” das ACTs, ou seja, atividades econômicas cujos consumidores são principalmente turistas, as perdas de postos de trabalho formais também foram significativas: alojamento (hotéis e outros tipos de alojamento) perdeu 56.791; agência de viagem (agências de viagens e operadores turísticos) perdeu 20.761; e transporte aéreo (transporte aéreo de passageiros regular e não-regular) perdeu 8.305.
Fonte: CAGED (2020). Organizado pela autora (2021).
A recuperação inicia-se no mês de setembro entre as ACTs, mas individualmente há diferenciações importantes. Aluguel de transporte apresenta saldo positivo em junho; transporte aquaviário em agosto; alimentação, alojamento e cultura e lazer em setembro; agências de viagem e transporte terrestre em outubro; e transporte aéreo somente em dezembro.
Assim como o setor de alimentação (restaurantes, outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas e serviços ambulantes de alimentação) foi o grande responsável pela maior parte das perdas no auge da primeira fase da pandemia, é ele também o responsável pelos ganhos, ainda que tímidos, no último trimestre do ano.
Fonte: CAGED (2020). Organizado pela autora (2021).
A análise dos dados do CAGED (2020) chama a atenção para a alta rotatividade no emprego do turismo. Em todas as ACTS, os postos de trabalho com menor qualificação são aqueles mais suscetíveis à demissão. Mais de 65% dos trabalhadores desempregados, entre março e agosto de 2020, possuem ensino médio; e cerca de 35% dos desempregados possuem ensino fundamental. O salário médio dos trabalhadores desligados, abaixo da média salarial paga no turismo, confirma a vulnerabilidade dos trabalhadores com menor qualificação.
Referência:
MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Secretaria do Trabalho. Microdados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED. Brasília, 2020.
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